Homens armados não identificados, vestidos com camuflados, atacaram nesta sexta-feira uma sala de espetáculos em Moscovo, na Rússia. Segundo os meios locais, pelo menos 40 pessoas terão morrido no Crocus City Hall. Mais de 6000 pessoas estariam no recinto, onde a popular banda russa Picnic iria actuar esta noite. O ataque ocorreu cerca das 20h locais (17h em Portugal continental).
Vídeos divulgados nas redes sociais e retransmitidos pelo canal televisivo russo RT mostram pelo menos três homens armados a avançar pela plateia do recinto e a disparar contra os espectadores. Segundo um jornalista no local, citado pela agência noticiosa RIA Novosti, centenas de sobreviventes terão esperado durante 15 a 20 minutos, deitados no chão, enquanto decorria o ataque, até conseguirem escapar. Para além dos disparos, registou-se a detonação de explosivos.
O Crocus City Hall faz parte de um complexo mais vasto, a Crocus City, que inclui um centro comercial e que se localiza no bairro de Krasnogorsk, a noroeste da capital. Segundo o Serviço Federal de Segurança da Rússia (FSB), mais de 100 pessoas ficaram feridas. Pelo menos 70 ambulâncias foram mobilizadas para o local, tal como unidades especiais da polícia. O resgate e assistência às vítimas estava a ser dificultado pelas chamas, que provocaram o colapso parcial do telhado do edifício. Não é também claro o estado e o paradeiro dos atacantes.
O presidente da Câmara Municipal de Moscovo, Sergei Sobyanin, fala numa "grande tragédia". Todos os eventos públicos de grande dimensão programados para este fim-de-semana na capital russa foram cancelados.
A identidade dos atiradores, ainda por capturar ou localizar, não é conhecida até ao momento. Num contexto de guerra entre a Rússia e a vizinha Ucrânia, de Kiev chegou já um desmentido categórico de qualquer participação no atentado. "Sejamos claros, a Ucrânia não tem absolutamente nada a ver com estes acontecimentos", frisou o assessor presidencial ucraniano Mykhailo Podolyak.
Em Washington, o Departamento de Estado norte-americano confirmou que a sua embaixada em Moscovo tinha conhecimento de relatos "de um incidente terrorista em curso", e a sua representação diplomática na capital russa apelou aos cidadãos americanos para evitarem a zona e para seguirem as instruções das autoridades locais. Os Estados Unidos condenaram o ataque.
"As imagens são simplesmente horríveis e difíceis de ver e os nossos pensamentos vão estar obviamente com as vítimas deste terrível, terrível ataque a tiro", disse o porta-voz da Casa Branca, John Kirby.
A 7 de Março, uma nota da embaixada dos Estados Unidos na Rússia apelava aos cidadãos norte-americanos para evitarem ajuntamentos na capital russa, alertando para a possibilidade de um ataque terrorista.
“A embaixada está a monitorizar relatos de que extremistas têm planos iminentes de atingir grandes ajuntamentos em Moscovo, como concertos, e os cidadãos dos EUA devem evitar grandes multidões nas próximas 48 horas”, lia-se nessa nota.
Os alertas tinham sido emitidos na sequência da intercepção, pelas autoridades russa, de elementos de uma célula do autoproclamado Estado Islâmico do Afeganistão que estariam a preparar um ataque contra uma sinagoga em Moscovo.
Os suspeitos foram mortos numa troca de tiros com agentes do FSB russo na cidade de Kaluga, onde também foi encontrado armamento presumivelmente pertencente ao grupo.
Esta sexta-feira, e segundo o New York Times, as autoridades norte-americanas sublinhavam que o alerta de 7 de Março não se referia a uma eventual acção ucraniana. De acordo o mesmo jornal, Washington expressa agora preocupação perante um possível aproveitamento da tragédia por parte do Presidente russo, Vladimir Putin, no contexto do conflito ucraniano.
De resto, Dmitri Medvedev, ex-chefe de Estado e actual vice-chairman do Conselho de Segurança russo, já apelou a uma forte retaliação caso se comprove uma ligação entre Kiev e o atentado desta noite: "Todos terão de ser encontrados e destruídos sem misericórdia como os terroristas que são. Incluindo os responsáveis do Estado que cometeu esta atrocidade." Citada pela RIA Novosti, a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros russo, Maria Zakharova, questionou "com que base as autoridades de Washington chegam a qualquer conclusão" sobre o não envolvimento de Kiev no ataque em Moscovo.
De Putin, para já, silêncio. O Kremlin informou que o Presidente russo está a acompanhar os acontecimentos e a dar "as instruções necessárias", mas não até ao momento uma declaração pública do chefe de Estado sobre a tragédia do Crocus City Hall.
A Federação Russa é palco de atentados terroristas há várias décadas, com um longo historial de ataques atribuídos pelas autoridades de Moscovo a separatistas do Cáucaso (sobretudo chechenos) e a grupos ligados ao extremismo islâmico internacional. A crise de reféns no Teatro Dubrovka, em 2002, e o ataque à escola de Beslan, em 2004, dois casos cuja gestão pelas forças de segurança foi fortemente criticada, foram os incidentes mais mortíferos nessa longa lista a que se junta, agora, o massacre do Crocus City Hall.
🚨 CENAS FORTES 🚨
— Hoje no Mundo Militar (@hoje_no) March 22, 2024
Momentos de pânico em uma sala de concertos de Moscou, alvo de um terrível ataque terrorista que deixou dezenas de mortos. O local estava lotado. pic.twitter.com/QPVNxXozFh