Em sua primeira entrevista na cadeia desde que foi preso, em novembro de 2016, o ex-governador do Rio Sérgio Cabral afirmou ao jornal Folha de S.Paulo que tem sido alvo de uma “gincana processual”. Segundo ele, a Lava Jato do Rio cometeu abusos e o seu caso é diferenciado, quando se compara ao de outros condenados por corrupção.
“Os meus três antecessores vivos foram presos. Moreira Franco, [Anthony] Garotinho e Rosinha [Garotinho]. O meu sucessor foi preso: [Luiz Fernando] Pezão. Todos estão respondendo aos seus processos fora da cadeia”, disse Cabral, que cumpre pena na Penitenciária Pedrolino Werling de Oliveira, no Complexo Penitenciário de Gericinó.
“Essa Lava Jato do Rio achou em mim um Cristo. O juiz achou em mim uma possibilidade de promoção pessoal. Um desconhecido se tornou a pessoa que prendeu Sérgio Cabral”, afirmou o ex-governador. “O Supremo Tribunal Federal decidiu que só se deve ser preso com processo transitado em julgado. Estou cumprindo pena de maneira antecipada.”
Condenado em 18 processos a quase 350 anos de cadeia e flagrado com cerca de R$ 300 milhões em contas fora do país, Cabral contesta o rito judicial que envolveu seu caso. “A particularidade do meu caso é o volume absurdo de sentenças de um juiz que resolveu dividir em 35 processos as acusações. Dificulta até a própria defesa”, diz. “Não quero me vitimizar. Mas é uma avalanche de processos como nunca se viu no Brasil. É uma gincana processual.”
Indagado sobre a situação totalmente diferente vivida hoje por outro político condenado por corrupção — Lula, reabilitado politicamente pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e em condições de disputar a Presidência da República em 2022 —, Cabral prefere não comentar.
“Não sou mais um agente político para fazer avaliação de quadros. Não cabe a mim falar sobre isso. É uma decisão de vida. Eu me desfiliei do partido. Na minha vida, não é hora de política”, afirma.
*Revista Oeste