O salário mínimo de 2025, fixado em R$ 1.518, entrou em vigor em 1º de janeiro e começou a ser pago aos trabalhadores em fevereiro. Embora o reajuste de 7,5% (R$ 106 a mais que os R$ 1.412 de 2024) tenha sido celebrado como um ganho real acima da inflação, os descontos reais podem, sim, surpreender quem espera receber o valor cheio na conta. Vamos destrinchar isso com base nos dados oficiais e no que impacta o bolso do trabalhador.
Primeiro, o desconto obrigatório do INSS é o mais imediato. Para quem ganha exatamente um salário mínimo, a alíquota é de 7,5%, conforme a tabela progressiva da Previdência de 2025. Isso significa R$ 113,85 descontados de cara (R$ 1.518 x 0,075). Assim, o valor líquido, sem outros abatimentos, já cai para R$ 1.404,15. É um corte que todo trabalhador CLT sente, mas quem recebe até R$ 2.259,20 (faixa de isenção do IRRF em 2025) escapa do Imposto de Renda, o que mantém o salário mínimo livre dessa taxação adicional.
Agora, os "descontos reais" vão além do INSS e podem pegar de surpresa quem não considera os extras. O vale-transporte, por exemplo, tem desconto legal de até 6% do salário bruto, ou R$ 91,08 (R$ 1.518 x 0,06). Se aplicado, o líquido despenca para R$ 1.313,07 (R$ 1.404,15 - R$ 91,08). Outros abatimentos, como contribuição sindical (opcional, mas comum em algumas categorias, equivalente a um dia de trabalho, cerca de R$ 50,60) ou coparticipação em planos de saúde (variável, mas podendo chegar a R$ 20-50 mensais), podem reduzir ainda mais o valor. Em um cenário com INSS e vale-transporte, o trabalhador já fica com menos de 87% do bruto. Adicione pensão alimentícia — que não tem teto fixo e depende de decisão judicial, mas pode consumir 20% a 30% do salário — e o montante líquido encolhe drasticamente.
Na prática, um trabalhador com salário mínimo, sem dependentes ou extras como horas noturnas, pode esperar entre R$ 1.313 e R$ 1.404 líquidos na maioria dos casos típicos (com INSS e, opcionalmente, vale-transporte). Mas, em situações extremas com mais descontos, como pensão ou sindical, o valor pode cair abaixo de R$ 1.200. Isso sem contar perdas indiretas: o Dieese estima que o salário mínimo ideal para sustentar uma família de quatro pessoas em janeiro de 2025 seria R$ 6.795,02, considerando a inflação e o custo de vida, o que mostra que mesmo o bruto está bem aquém do necessário.
O reajuste de 7,5% (4,84% do INPC de 2024 mais 2,5% de ganho real, limitado pela nova regra do arcabouço fiscal) dá um fôlego, mas os descontos corroem boa parte desse aumento. Comparando com 2024, o líquido pós-INSS subiu de R$ 1.306,10 (R$ 1.412 - 7,5%) para R$ 1.404,15, um ganho real de R$ 98,05 — menos que os R$ 106 brutos anunciados. Se o custo de vida, como gás (R$ 119,58) e alimentos básicos, segue subindo mais rápido, o impacto positivo pode ser ainda mais diluído.
Resumindo, o salário mínimo de 2025 não é exatamente uma surpresa no valor bruto, mas os descontos reais — especialmente quando somados a benefícios opcionais ou obrigações extras — podem sim reduzir o que chega ao bolso a ponto de frustrar expectativas. Quem planeja o orçamento precisa olhar além do número cheio e calcular o líquido realista com base em sua situação específica.
