A ministra Maria Elizabeth Rocha, eleita presidente do Superior Tribunal Militar (STM) com posse marcada para 12 de março de 2025, declarou que o ex-presidente Jair Bolsonaro "usou" as Forças Armadas durante seu governo, iniciado em 2019, o que teria comprometido a credibilidade da instituição. Segundo ela, Bolsonaro, por ter origem militar e não contar com uma base parlamentar sólida ao assumir o cargo, valeu-se de oficiais das Forças Armadas para ocupar posições de confiança em seu governo. Essa proximidade, na visão da ministra, quebrou a lógica esperada de que o poder civil deve comandar o militar, um princípio fundamental em democracias modernas.
Rocha destacou que, embora Bolsonaro tenha se apoiado nas Forças Armadas para governar, alguns militares também se beneficiaram do protagonismo que ganharam durante o período. Ela apontou que a Marinha, o Exército e a Aeronáutica foram "extremamente prejudicados" por essa relação, sofrendo um abalo em sua reputação devido à condução errática do governo. A ministra fez essas afirmações em entrevista à CNN Brasil, exibida em 1º de março de 2025, poucos dias antes do aniversário de dois anos dos atos de 8 de janeiro de 2023, que também envolveram militares e simpatizantes do ex-presidente.
O governo Bolsonaro foi marcado por uma presença significativa de militares em cargos estratégicos, com mais de 6 mil oficiais ocupando funções civis, segundo dados amplamente divulgados na época. Essa militarização foi vista por críticos como uma tentativa de fortalecer sua base política, mas acabou associando as Forças Armadas a episódios controversos, como a gestão da pandemia e denúncias de corrupção envolvendo militares próximos ao ex-presidente. Para Rocha, essa instrumentalização solapou a imagem de neutralidade que as instituições militares deveriam manter como órgãos de Estado, não de governo.
A avaliação da nova presidente do STM coincide com um momento de reflexão sobre o papel das Forças Armadas no Brasil pós-Bolsonaro. Após os eventos de 8 de janeiro, quando apoiadores do ex-presidente invadiram os Três Poderes em Brasília, investigações revelaram a participação de militares da ativa e da reserva, o que intensificou o escrutínio sobre a instituição. A Polícia Federal apontou, em relatório de novembro de 2024, que Bolsonaro buscou apoio de oficiais para uma tentativa de golpe, mas enfrentou resistência de parte dos comandos, evidenciando fissuras internas.
Rocha também comentou sobre as penas aplicadas aos envolvidos no 8 de janeiro, considerando algumas "muito elevadas", mas ponderou que discutir anistia seria precoce antes da conclusão de todos os julgamentos. O STM, responsável por julgar crimes militares, tem sido palco de debates sobre a conduta de oficiais durante e após o governo Bolsonaro. A ministra, ao assumir a presidência, sinaliza uma postura crítica em relação ao uso político das Forças Armadas, sugerindo que o episódio deixou cicatrizes institucionais que demandarão tempo para serem superadas.
A declaração da ministra reflete uma percepção crescente de que a credibilidade das Forças Armadas foi abalada nos últimos anos, corroborada por pesquisas recentes que mostram uma queda na confiança da população. Enquanto Bolsonaro segue como uma figura influente na oposição, com aliados como Eduardo Bolsonaro e Nikolas Ferreira reagindo às críticas, o Judiciário militar, sob a liderança de Rocha, parece disposto a reforçar a separação entre as esferas militar e política, buscando restaurar a imparcialidade da instituição em um contexto de polarização nacional.
A defesa do tenente-coronel Ronald Ferreira de Araújo apresentou ao Supremo Tribunal Federal (STF) um pedido para que o julgamento do militar ocorra em outra instância da Justiça. Ronald é um dos acusados de integrar uma organização que teria planejado um suposto golpe de Estado no Brasil após o resultado das eleições presidenciais de 2022, na qual o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu o presidente Jair Bolsonaro (PL), que tentava a reeleição. A defesa de Ronald Araújo sustenta que o STF não detém competência para julgar o caso, já que nenhum dos acusados possui foro por prerrogativa de função. Segundo os advogados, a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República é vaga e inepta, uma vez que não descreve com clareza os fatos e as condutas atribuídas ao militar – dificultando o exercício do direito de defesa. Ronald é acusado pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, gol...