Em um dos depoimentos prestados à Polícia Federal (PF) no âmbito de sua delação premiada, homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em setembro de 2023, o tenente-coronel Mauro Cid relatou uma reação intensa da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro diante da saída do governo em dezembro de 2022. Segundo Cid, em um trecho tornado público após a derrubada do sigilo pelo ministro Alexandre de Moraes em 19 de fevereiro de 2025, Michelle “quase pirou” ao ver a mudança dela saindo do Palácio da Alvorada. Ele afirmou: “Quando ela viu a mudança dela saindo, ela quase pirou. Ela falava que a gente tinha que fazer alguma coisa.”
O depoimento foi dado em 23 de maio de 2023, durante as investigações sobre a suposta tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Cid, que era ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, contextualizou a fala ao descrever o clima de tensão nos últimos dias do governo, entre a derrota eleitoral de outubro e o fim do mandato em 31 de dezembro. Segundo ele, Michelle expressou desespero e cobrou ações para evitar a transição, embora Cid não tenha especificado no trecho o que ela esperava que fosse feito.
A declaração foi usada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) na denúncia contra Bolsonaro, apresentada em 18 de fevereiro de 2025, como indício do envolvimento emocional da família na resistência à posse de Luiz Inácio Lula da Silva.
No entanto, Cid não relatou que Michelle tenha sugerido algo concreto ou participado diretamente de planos golpistas, limitando-se a descrever sua reação como uma explosão de frustração. Ele também não foi questionado no depoimento sobre eventuais ações dela além dessa cobrança genérica.
A menção a Michelle nesse contexto reforça a narrativa da PGR de que o entorno de Bolsonaro, incluindo familiares, estava alinhado ao desejo de reverter o resultado eleitoral, ainda que não haja, até o momento, elementos na delação que a incriminem diretamente. A ex-primeira-dama não foi denunciada pela PGR, diferente de Bolsonaro e outros 33 investigados, como Mauro Cid, que figuram na acusação por crimes como organização criminosa e tentativa de golpe.
Michelle, por sua vez, não comentou diretamente o depoimento de Cid após sua divulgação, mas em 20 de fevereiro, em um vídeo nas redes sociais, defendeu o marido contra a denúncia da PGR, chamando-a de “perseguição política” e convocando apoiadores para uma manifestação em 25 de fevereiro na Avenida Paulista. Sua reação no vídeo não abordou o relato de Cid, focando na defesa de Bolsonaro e na mobilização da base bolsonarista.
O trecho do depoimento de Cid sobre Michelle, embora não seja uma prova de crime, adiciona uma camada pessoal ao quadro investigado, sugerindo que a saída do poder foi um momento de crise para a família Bolsonaro, com reflexos emocionais que podem ter alimentado o ambiente de inconformismo descrito nas investigações da PF e da PGR. No entanto não existe provas quanto as acusações de Mauro Cid
Mauro Cid diz à PF que Michelle Bolsonaro pressionou por golpe de Estado.
— Metrópoles (@Metropoles) February 21, 2025
“Quando ela viu a mudança dela saindo, ela quase pirou. Ela falava que a gente tinha que fazer alguma coisa”, afirmou Cid em depoimento à PF. pic.twitter.com/ydypasUeu4