Até o momento, o embate entre Rumble e Alexandre de Moraes não havia me chamado especialmente a atenção. Mas agora, o próprio Departamento de Estado americano entrou na briga. Not good.
Algo me diz que Moraes foi vítima de sua arrogância e sua sensação de poder ilimitado. A Rumble, juntamente com a Trump Media, havia entrado com uma ação contra o ministro na justiça americana.
Tratava-se de algo simbólico, pois, obviamente, a justiça americana não tem jurisdição em território brasileiro. Mas Moraes está decidido a demonstrar quem é o fodão do bairro Peixoto (ah Planeta Diário, que falta você faz!) no planeta inteiro, e resolveu dar o troco: suspendeu o Rumble no Brasil até que a empresa indique um representante legal no País.
Obviamente, trata-se de uma exigência sem base legal. Eu assino um software de controle de finanças que é mantido por uma empresa que não tem sede no Brasil. Pago em dólares no meu cartão.
Essa empresa está fora da lei? A própria Shein só abriu um CNPJ no Brasil muito depois de começar a vender para brasileiros. Essas operações de importação eram ilegais até então?
O objetivo de Moraes é ter um refém local, alguém que possa ser achacado em seu CPF até que o Rumble (que não está sob jurisdição de Moraes) acate as suas ordens. Belo Estado Democrático de Direito este.
“Ah, mas Allan dos Santos (o perfil censurado, ops! derrubado por Moraes) espalha desinformação e ameaça a democracia. Substitua “democracia” por “revolução”, e temos aí a mesma desculpa usada pelos censores do regime militar. Allan dos Santos fala coisas sobre vacinas e urnas eletrônicas com as quais eu não concordo.
Inclusive, espalha teorias da conspiração a mancheias. Tudo isso é fato. O problema é atacar a questão com instrumentos alheios ao Estado Democrático de Direito. “Condições excepcionalíssimas”, como disse a inefável Carminha-do-lenço-fashion, que vão se tornando cada vez mais comuns. O Estado de exceção tornou-se a regra. Além de ser contraproducente, servindo somente para confirmar o viés anti-instituições daqueles que são o alvo da censura.
Agora, o Departamento de Estado americano se meteu na história. Vamos ver as cenas dos próximos capítulos.
Marcelo Guterman. Engenheiro de Produção pela Escola Politécnica da USP e mestre em Economia e Finanças pelo Insper. Jornal da cidade
