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Mauro Cid, o vazamento e a “preguiça” da imprensa “oficial”, quando o assunto deveria ser outro

É assombrosa a capacidade do jornalismo oficial para manter em pauta um não assunto. Sim, sim, porque o assunto deveria ser outro, como já veremos. De quanto entendi, os “golpistas” operaram desde 2019 uma organização criminosa com o intuito de acabar com a democracia no Brasil no dia 8 de janeiro de 2023. De comércio de joias à Covid, de reunião com embaixadores a discurso em 7 de Setembro, passando, talvez, pelo assédio à baleia e pelo atestado de vacina, tudo serviu ou serviria para a direita demolir o estado de direito que vinha andando bem direitinho. Tão direitinho, que Lula, por culpas em cartório, foi preso no dia 7 de abril de 2018, três dias após o STF ter negado por 6 a 5 o derradeiro habeas corpus preventivo apresentado por sua defesa. Sim, o STF fez isso. Na minha perspectiva, a ascensão de Bolsonaro no processo eleitoral de 2018, contraposto ao precipício em que o PSDB despencou, viraram a chave dentro do Supremo. Alckmin fez apenas 4% dos votos naquele pleito. Começou, ali, a “vertiginosa” ascensão institucional e política da corte e do TSE. Se quem não tem cão caça com gato, só Lula e o PT restaram para o establishment. O trecho vazado da colaboração premiada de Mauro Cid deixa claro que os editores do relatório da PF cuidaram de obter dele nomes aos quais atribuir envolvimento com o suposto golpe. Vou fazer de conta que não vejo um queijo suíço cheio de buracos em toda essa narrativa e analisar o que me parece importante. (Do que está em sigilo e desconheço não tenho como falar). Naqueles dias, se algum serviço secreto colocasse escuta em qualquer banco de praça, parada de ônibus, mesa de bar ou sala de espera, iria ouvir conversas sobre o ambiente político nacional e capturar opiniões como as que aparecem no depoimento relatado pela PF. Assim eram as coisas, no Brasil, de modo especial nos dois meses imediatamente posteriores ao pleito de 2022. As inconformidades de milhões de brasileiros eram muitas e incluíam, principalmente, o resgate de Lula da carceragem da PF de Curitiba, a condução do processo eleitoral e a falta de transparência da apuração. Os ministros do STF parecem não entender que uma coisa é a confiabilidade das urnas; outra é a transparência da apuração aos olhos da sociedade. O povo vê que o povo não vê. O sigilo e a censura também são ruidosos. Em tal ambiente, seria inimaginável, impensável – diria mais: civicamente irresponsável e inadmissível – que pessoas próximas ao presidente não tratassem desses assuntos com ele, externando as próprias opiniões. Até aí, coisa alguma é crime, pois não passa de cogitação, de desejo, de anseio, de medo do que viria e veio, que simultaneamente estavam na alma e se expressavam nas vozes de milhões de cidadãos de bem e que merecem respeito, mesmo que sua liberdade de expressão pareçam deixar de o merecer. Não se salva a democracia com menos democracia, nem o estado de direito com menos direito, nem a liberdade com menos liberdade. Esse é o assunto.

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