Sem saída, Lula “engole” indicação de general ligadíssimo ao governo Bolsonaro para o STM

O Superior Tribunal Militar (STM) se vê diante de um caso sem precedentes, que poderá decidir sobre a perda de patentes de alguns dos principais nomes das Forças Armadas no governo Bolsonaro, incluindo o general Braga Netto, ex-vice-candidato, e o ex-ministro da Defesa, general Paulo Sérgio de Oliveira. A Polícia Federal conduz uma investigação sobre um suposto plano de anulação das eleições de 2022, com possível envolvimento de Jair Bolsonaro. Este processo corre no STF, mas qualquer decisão sobre a cassação das patentes militares recairá sobre o STM, caso haja condenação com pena superior a dois anos. Um aspecto curioso e controverso na situação é a recente indicação do general Guido Amin Naves ao STM pelo presidente Lula, o que levanta questões sobre possíveis conflitos de interesse. Naves, que atualmente comanda a região Sudeste do Exército, estava diretamente envolvido em eventos cruciais após o segundo turno de 2022. Ele chefiava o Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, cujas equipes produziram o relatório sobre o sistema eleitoral para o TSE.

Esse documento, embora não identificasse fraudes, foi ambíguo ao não descartar por completo possíveis irregularidades, o que alimentou suspeitas e reforçou as tensões. A indicação de Naves ao STM seguiu critérios de antiguidade e foi aprovada pelo Planalto, mesmo com Lula ciente de seu histórico. Essa decisão pode ser interpretada como um gesto de confiança na competência técnica do general, visto como discreto e altamente qualificado. No entanto, o fato de Naves ter participado de reuniões estratégicas com figuras do governo Bolsonaro, incluindo Braga Netto e Paulo Sérgio, poderá gerar controvérsias durante sua sabatina no Senado, especialmente com o clima político aquecido em torno de temas como a intervenção militar e a confiança nas instituições.

Para muitos observadores, a situação é complexa: enquanto o Exército e o próprio Naves defendem que suas ações foram pautadas exclusivamente por critérios técnicos e em prol da transparência do processo eleitoral, críticos argumentam que sua proximidade com a cúpula anterior do governo pode comprometer sua neutralidade. Em resposta, Naves afirmou estar pronto para prestar esclarecimentos, enfatizando que sua atuação não teve envolvimento político.

A indicação de um militar com histórico de atuação próximo ao governo Bolsonaro para o STM, especialmente em um momento em que o tribunal poderá julgar casos diretamente ligados a essa gestão, coloca uma carga adicional de escrutínio sobre a sua futura atuação.